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Mais imposto, menos juro? Só em Sucupira
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Mais imposto, menos juro? Só em Sucupira

IPCA surpreende para baixo e impulsiona aposta em fim do ciclo de alta da Selic. Haddad inventa que mais imposto (sobre aplicação financeira) traz menos juros. E o Brasil? Aplaude da cobertura

TRANSCRIÇÃO GERADA POR IA


Bom dia, pessoal. Sejam todos muito bem-vindos, sejam todas muito bem-vindas. Esse é o nosso Acorda Sucupira. Eu sou Rodrigo Oliveira e hoje é quarta-feira, dia 11 de junho.

Estamos mais ou menos na mesma, algumas coisas mudando, outras não. Ainda há um pouco de receio sobre o que realmente vai vir nessa tal medida provisória que o Fernando Haddad promete apresentar hoje ainda, até o fim do dia. Essa é a expectativa do mercado hoje. Então, todo mundo de olho no texto da medida provisória, que vai então recuperar alguma receita, ou a intenção é recuperar alguma receita com novos impostos, aumento de alíquota e tudo aquilo que disseram que não iriam fazer. Mas a gente vai falar sobre isso daqui a pouquinho.

Quero falar um pouco antes sobre o IPCA, esse sim, fazendo preço. Ontem o IPCA derrubou as expectativas para a reunião, ou melhor, modificou sensivelmente as expectativas para a decisão do Copom na semana que vem, nos dias 17 e 18 de junho. Você vinha aí com uma expectativa de aumento da Selic, que ganhou um pouco mais de força depois de algumas falas do Galípolo. Muita gente, a maioria pelo menos, puxou o mercado para esse lado de que estaria ainda na mesa um possível aumento de 0,25 ponto percentual na Selic. E ontem, com o IPCA muito abaixo do esperado — lembrando que o IPCA marcou 0,26% de alta em maio contra 0,43% em abril — desacelerou bastante, e mais do que isso, ficou muito longe das expectativas, que eram de 0,34%, e ficou abaixo, inclusive, do piso das expectativas. Não tinha ninguém no mercado, pelo menos publicamente, defendendo que o IPCA viria nesse nível de desaceleração.

Quando você abre o IPCA qualitativamente — serviços, núcleos, etc. — tudo veio melhor do que estava sendo esperado. Ainda estamos com o IPCA muito alto, ainda está acima de 5%, e o limite da meta de inflação é de 4,5%. Estamos com 5,3% se não me falha a memória. Mas, de qualquer maneira, isso fez com que o pessoal repensasse essa ideia do que vai acontecer com a Selic na semana que vem. Voltou a ganhar força a ideia de que teremos uma manutenção da Selic em 14,75% ao ano. Então, uma Selic inalterada a partir de agora e o fim oficial do ciclo de alta da Selic na próxima reunião.

O mercado ainda está dividido. Se você olhar para aquelas opções digitais, as opções de Copom que já comentei algumas vezes, elas passaram a precificar: dois dias atrás você estava precificando 26% de possibilidade de uma manutenção da taxa Selic, e agora essa probabilidade subiu para 48%, contra uma expectativa de alta que passou de 69% para 50%. Então, bola dividida nesse momento. Continuo apostando que, dados os dados mais recentes e também o que foi falado na última reunião do Copom, não há motivação para que o Comitê de Política Monetária aumente 0,25 ponto percentual.

Quero lembrar uma coisa, porque vocês vão ouvir muita coisa sobre isso, muitas opiniões, principalmente de gestores. Lembro uma frase do Pedro Cerise, com quem tive o prazer de conviver durante dois anos praticamente diariamente: gestor não tem opinião, tem posição. Quando o cara defende que vai aumentar a taxa Selic em 0,25, é porque ele está posicionado nesse movimento. Não é uma opinião dele, é uma posição, e ele está defendendo até porque, se mais pessoas fizerem força para o mesmo lado, ele acaba fazendo com que essa posição seja autoprofética, uma profecia autorrealizável, digamos assim. Lembrem-se disso quando estiverem ouvindo opiniões, porque todo mundo, no fim das contas, tem algum interesse nessas opiniões.

O IPCA veio mais tranquilo, ajudou a segurar um pouco dessa expectativa de que ainda teríamos um chorinho para a alta dos juros. Mas, apesar disso, temos aí o nosso querido Fernando "Lero" Haddad falando um monte de besteira, falando um monte de coisa sem sentido. A começar por ontem, não sei se vocês viram, ele já tinha falado isso para jornalistas em separado ali na entrada do Ministério da Fazenda e depois no Jornal Nacional repetiu isso: aquela história de "estamos cobrando o pessoal da cobertura, porque esse pessoal mora no mesmo prédio, mas não está pagando o condomínio", que é a velha fórmula de ricos contra pobres. Também é uma forma de dizer que quem paga o imposto é a empresa externa, e não você que compra o produto.

Quero deixar isso bem claro, porque acho que a gente tem que entender essas coisas. O problema do Brasil é a falta de matemática, as pessoas não sabem fazer conta, e aí a gente acaba tendo esse tipo de besteirol na TV. E, com orgulho, o Haddad reproduziu essa fala gravada no Jornal Nacional, no X dele, no Twitter. Agora o pessoal discute se vai derrubar esse tipo de coisa, talvez esse fosse um tipo de coisa que podia derrubar logo, porque para falar esse tanto de besteira era melhor que fosse proibido — mentira, nunca defenderei esse tipo de coisa, só para deixar claro.

O que o Haddad está dizendo então? É a mesma conversa de sempre: "estou colocando gente que não paga nada ou que paga muito pouco para pagar mais". Quem é que paga muito? Quem é o rico do Brasil? Quem é o super rico no Brasil? Acho que essa é uma discussão que a gente devia ter. Porque, se você tem aí acima de 10, 15 mil reais de renda familiar, já está nos 5, 10% mais ricos do Brasil. Então, estamos falando de um rico que não é tão rico assim, né? Ah, mas tem aquele cara que é bilionário. Sim, esse cara é 0,000 qualquer coisa da população. Deveria pagar mais? Deveria, claro. Até porque, como diz aquela piada do comunista, eu não tenho um bilhão. Então, quem tem é que se vire e que pague mais. Outro dia conto a piada inteira para vocês entenderem, mas quem conhece a piada já entendeu a referência.

E aí ficou essa história de vamos aumentar o Betis. Fico pensando: deve ter muita gente rica jogando no Tigrinho, no Betis, para saber se o Brasil vai ganhar do Paraguai nas eliminatórias da Copa, para apostar no Paraguai, apostar no Brasil. Deve ter muita coisa nesse sentido, não é mesmo? Porque, se a gente está falando que estamos indo atrás dos ricos, e aí fala besteira uma atrás da outra. Depois fala um negócio que é absurdo: "estamos taxando, aumentando esses impostos, porque isso vai fazer o juro cair". Beleza, posso até aceitar alguma racionalidade nessa história dizendo "olha, talvez no futuro, já que você dá uma equilibrada fiscal, você vai arrecadar mais, consiga fazer com que a expectativa de juros caia porque estará com a saúde fiscal em dia". Mas não é isso que vai acontecer, até porque, de novo, algumas das receitas, como os pisos constitucionais de saúde e educação, são atreladas à receita. Então, quanto mais arrecado, mais tenho que pagar. Mais difícil fica, ou o volume está de uma tal monta que cada vez que faço isso, piora a situação. Não é esse lado que a gente tem que olhar, todo mundo sabe que é o lado dos gastos. E qual é a solução que o Haddad apresentou? Vamos fazer reuniões para ver o que dá para ser feito disso.

Enquanto isso, você que mora na cobertura — aparentemente todo mundo mora na cobertura agora — vai ter que pagar mais imposto. E como é que o juro cai quando aumento a taxação em aplicações financeiras? Raciocina comigo aqui. Você tinha um título que era isento, certo? Então, você tinha um título que não pagava imposto de renda. E você pensa: "muito bem, vou emprestar meu dinheiro para esse cara aqui porque o título que ele vai me vender não paga imposto de renda". Nesse caso, ele não precisa me oferecer tanto juro porque já tenho um ganho pelo desconto do imposto de renda, pela isenção. Mas se colocarem imposto de renda, qual é o juro que vou precisar ganhar? Maior ou menor? Vocês entendem o que estou falando? Imagina que ele pagava 1% de juros para você, enquanto os outros pagavam 1,25%. Ele pagava 1% porque você não precisava pagar imposto de renda em cima desse papel. Se você vai começar a pagar imposto de renda em cima desse papel, quanto você vai cobrar para correr esse mesmo risco agora com o imposto de renda? Óbvio que esse juro vai subir, esse juro de captação vai subir e o juro que o credor vai querer vai ser mais alto. Então não existe isso de que o juro vai cair em função disso, isso é completamente absurdo.

O que poderia ser é aquilo que falei antes: "ah não, estamos equilibrando o fiscal", mas é muito mais saudável para o país a gente equilibrar o fiscal com os excessos de gastos que temos. Mas, em vez de fazer isso, o que vamos fazer? Um excesso de reunião. Fazemos reunião para marcar a próxima reunião, que é isso que vai acontecer agora com essas comissões que estão sendo criadas para discutir o corte de despesas. Há quanto tempo já tem comitês de corte de despesas? Há quanto tempo o governo tem falado em pente-fino no BPC para dar mais eficiência ao gasto? Nada disso foi levado à frente. Isso nem assunto é. E, lembrando de novo, estamos tratando aqui de uma compensação, de um aumento de um imposto que é ilegal — não um imposto, um aumento. Esse imposto, o IOF, não é arrecadatório, ele é regulatório. E mais, o Haddad está aproveitando essa confusão toda para aumentar ainda mais a arrecadação via impostos, via mão grande e invisível do governo no bolso do contribuinte brasileiro, para poder em 2026 continuar aumentando gastos, para ter alguma chance eleitoral para o presidente Lula. Então, tem alguma coisa que não está certa nessas coisas que estão todas erradas.

A expectativa é pelo texto da MP e como será a reação do Congresso para isso.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, parece que avançaram nas discussões sobre tarifas, sobre terras raras. A China parece que está criando cotas ou mudando algumas regras para exportação de terras raras e ímãs para os Estados Unidos, que são material básico para muita coisa. Em troca, os Estados Unidos abririam um pouco mais o mercado americano para venda de produtos de tecnologia americanos para os chineses. Então, é isso que está na mesa. Os negociadores de ambas as partes encerraram ontem as discussões bastante otimistas sobre as propostas que conseguiram acordar. Agora precisa, obviamente, que os mandatários de Xi Jinping e Donald Trump aceitem as condições para vermos uma mudança nesse clima.

Enquanto isso, esse otimismo deve repercutir nas bolsas de valores pelo mundo afora, inclusive na nossa. É claro que sempre tem essa MP que pode vir um pouquinho pior do que o pessoal está imaginando — e eu imagino que virá um pouco pior — porque a MP vai ser um plano de negociação. Então, com certeza, vai ter muita gordura para poder queimar ainda, para poder tirar da mesa. O governo vai colocar tudo o que pode e não pareça absurdo, já contando que algumas dessas coisas serão retiradas no Congresso Nacional.

Esse é o nosso panorama para quarta-feira. Amanhã a gente se encontra na nossa live, falamos um pouco mais sobre isso, provavelmente já com a MP pronta, com o texto já claro para todo mundo, com todos os detalhes, e aí podemos avançar um pouco mais nesse assunto, beleza?

Vou ficando por aqui. Bons negócios a todos nessa quarta-feira. A gente se vê amanhã na nossa Live às 7h30 no YouTube. Lembre-se: se você ainda não é inscrito no nosso canal no YouTube, inscreva-se, ative o sininho, deixe like quando assistir o vídeo e ative o sininho para ser avisado pelo YouTube toda vez que estivermos no ar. Além disso, siga a gente também no esquinasucupira.substack.com. Lá você pode inclusive ser um assinante pagante do esquinasucupira.substack.com, que é esse hub que organiza e condensa tudo que produzimos nesse grande guarda-chuva que é o Esquina Sucupira. Lá você pode apoiar financeiramente nossa empreitada com 20 reais por mês facilmente. Se não quiser, também não tem problema, tem acesso para os assinantes gratuitos. Mas é interessante que você fique por lá, porque lá tenho acesso a vocês. Se um dia derrubarem o X, o YouTube, sabe-se lá qual é o futuro dessa nação, pelo menos tenho o e-mail de vocês e posso continuar me comunicando de alguma forma.

Beleza? Vou ficando por aqui. Como disse, bons negócios a todos e avante Sucupira.

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