Esquina Sucupira
Acorda, Sucupira!
📊 Super Quarta, IOF e os bastidores de um governo cercado
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📊 Super Quarta, IOF e os bastidores de um governo cercado

Enquanto Haddad joga xadrez fiscal com o Congresso, o mercado antecipa tensão no Copom e pizza no Pentágono. A semana promete altas temperaturas — nos juros, no petróleo e nas votações

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Acorda, sucupira!

Bom dia, pessoal, sejam todos muito bem-vindos, sejam todas muito bem-vindas, eu sou Rodrigo Oliveira, esse é o nosso Acorda Sucupira de segunda-feira, 16 de junho de 2025. Semana que tem super quarta, começa hoje, ainda nessa segunda-feira, com a votação da urgência do PDL que pode derrubar o decreto do IOF. Não é a votação do próprio PDL, mas a votação de colocar ele num regime de urgência. Então ele passa à frente na fila e pode ser votado praticamente a qualquer momento. Essa semana ainda pode ser votada a derrubada do IOF.

Mas o que preocupa o governo principalmente é porque, aparentemente, segundo alguns levantamentos que o pessoal fez, você teria praticamente 300 votos a favor da urgência do PDL. E se o pessoal está votando a favor da urgência, muito possivelmente também acham que esse PDL deve ser aprovado. Isso derrubaria o novo decreto do IOF. Tem uma discussão ainda sobre o que ficaria no lugar, se o decreto anterior ficaria no lugar ou não, mas a Câmara também pretende, se for derrubar, derrubar logo tudo de uma vez, decreto novo e decreto antigo, e a gente fica sem essa história do IOF.

O resultado disso então seria um novo contingenciamento ou o governo esperar um pouco para a próxima revisão bimestral de receitas e despesas e aí sugerir um novo contingenciamento, um novo bloqueio, caso necessário, porque agora também deve mudar um pouco aquela expectativa de receita, deve se o IOF cair. Então é possível que se coloque aí como expectativa de receita aumento nos dividendos da Petrobras, o que tem ajudado inclusive os papéis da Petrobras que estão subindo forte não só... vou fazer um parênteses aqui, não só pelo problema, pela guerra ali entre o Iraque e o Irã, pelo conflito Irã e Iraque, que fez com que o petróleo disparasse, o petróleo chegou a bater 75 no começo do dia hoje, agora está 73 dólares o barril tipo Brent, vindo lá de 65. Vocês vão lembrar que a gente vinha falando disso já há algum tempo. A minha expectativa, inclusive, era de queda do preço do Brent em função do aumento da produção na Arábia Saudita, mas quando você coloca o Oriente Médio nesse nível de tensão, é natural que o preço do barril de petróleo suba. Você tem ali o Estreito de Hormuz e outros problemas que podem fazer com que o custo para extrair petróleo fique muito alto e também você pode ter interrupção na produção do Irã e se outros países entrarem nesse conflito, nesses outros países. Também, então muita tensão em função disso.

Mas além disso, a Petrobras, que se beneficia da alta do preço do petróleo, também as ações podem estar reagindo a um possível aumento na distribuição de dividendos para poder o governo fazer caixa. Não só da Petrobras, mas também Banco do Brasil e BNDES e outras estatais. O que puder conseguir de dividendo ajuda a fazer caixa para o governo.

Então, essa semana começa no ambiente político bastante tensa com essa discussão do PDL. Vocês vão ver que há uma disseminação de notícias desde domingo e hoje também. Falando sobre a insatisfação dos parlamentares com a liberação de emendas, blá, blá, blá. É óbvio que as emendas têm um papel importantíssimo nas negociações entre o Congresso e Palácio do Planalto. Mas não dá para reduzir isso, reduzir tudo a liberação de emendas. Existe sim uma insatisfação popular grande com essa história de aumentar taxa, essa sensação de que tudo é resolvido com mais imposto e aquela retórica que funcionava antigamente de não estamos cobrando dos mais ricos, dos super ricos, ela tem cada vez mais ficado difícil de colar. O IOF é um imposto que atinge todo mundo, qualquer um que tem um cartão de crédito, qualquer um que faça uma operação financeira de empréstimo, ele é atingido pelo IOF. As alterações não são em todas as alíquotas de IOF para toda a operação, mas acaba ficando essa sensação de que você não está só tirando dinheiro de quem está na cobertura, como diria o nosso querido Fernando Haddad, e sim você está tirando dinheiro do prédio inteiro, do primeiro andar, de quem está na portaria, de quem está fazendo a manutenção do prédio, do segundo, terceiro, quarto até a cobertura. E isso tem ficado muito ruim.

Junte-se a isso que já há um ranço, já tem um problema de popularidade com o presidente Lula. Quando você junta tudo isso no mesmo pote, há uma pressão para os congressistas também se posicionarem contrariamente a essa história de aumento de impostos. Então, vai ser uma votação importante essa de hoje, que é essa votação da urgência do PDL. Lembrem-se, não é que aprova hoje o que for votado e pronto, o decreto do IOF cai. Não é isso. Mas você aprova a urgência e aí ele fura a fila e vai para frente da pauta do Congresso Nacional. Pode ser votado praticamente a qualquer momento. Dependendo do placar, você já tem também uma noção se o PDL passa ou não, não passa na Câmara dos Deputados.

Muito bem. Além disso, a gente tem a super quarta, porque tanto o Banco Central, o Copom, quanto o FOMC, que é o Copom lá do Fed, nos Estados Unidos, definem as taxas de juros básicas no dia 18 de junho. O Fed, como a gente já vem falando há muito tempo, deve manter a taxa onde está, entre 4,25 e 4,50. Eles trabalham ali com uma banda. E o Banco Central Brasileiro, aí sim, a gente tem uma divisão no mercado. A gente teve, boa parte do mês de maio, uma certeza praticamente de que a taxa Selic seria mantida em 14,75%. Mas desde o comecinho de junho, principalmente com essa história do IOF, as coisas acabaram mudando um pouco e a expectativa do mercado agora está mais para o aumento da taxa Selic em 0,25 para... 15% ao ano, 56,5% de probabilidade para esse aumento, de acordo com aquelas opções do Copom que eu já mostrei para vocês aí na nossa live, e a manutenção da taxa em 14,75% em 42%.

Agora, se vocês lembrarem, principalmente o pessoal que acompanhava a gente na reunião de caixa, lá na INVI, existe uma coisa que eu falava lá. E o pessoal que... Obviamente isso não saiu da minha cabeça, mas o pessoal que participa do Copom, que foi diretor do Banco Central, com quem eu já tive o prazer de conversar, sempre dizem... E o Galípolo chegou a falar isso, acho que em uma entrevista, inclusive. Sempre dizem que é o seguinte: quando você está próximo de movimentos que mudam a direção dos juros, você tem maiores divisões. Então acho que eu cheguei a falar isso na semana passada também, é muito possível que agora a gente tenha então não só o mercado chegando como está, chegando dividido para a reunião, as expectativas sobre o que vai acontecer com os juros estão divididas, mas também a gente tem aí uma divisão entre os membros do comitê. Vai ter gente provavelmente que vai votar por um aumento na taxa Selic e vai ter gente que vai votar por uma manutenção. Você tem um problema aí de percepção que é o seguinte: hoje você tem três diretores, se não me falha a memória, que são ainda remanescentes da época do Roberto Campos Neto, isto é, indicados ainda na época do presidente Bolsonaro, e os outros seis, na verdade você tem dois e sete que já são indicados pelo Lula. Entre esses dois, o Diogo Guilhem é um deles, que é o nosso diretor de política econômica, e ele é um cara mais hawkish, como a gente fala no jargão do mercado financeiro. Ele olha sempre para o lado mais restritivo da política monetária. Pelo menos tem se mostrado assim, tem sido visto dessa forma. E você pode ter, então, uma votação dele indicando uma alta. E você ter o pessoal da... escolhido anteriormente, do mandato do Roberto Campos Neto, da época do Roberto Campos Neto, votando por uma alta e o pessoal escolhido ou indicado pelo presidente Lula votando pela manutenção, e isso pode criar novamente, a gente teve isso lá atrás, mas isso pode criar novamente uma divisão que pode ser vista pelo mercado como um grupo, o grupo indicado pelo presidente Lula votando, um grupo mais leniente. Isso explicaria até porque é que o Galípolo chegou a ficar um pouco mais duro nas declarações que ele fez sobre a política monetária, sobre a taxa de juros, antes do início do período de silêncio, nas últimas semanas que vinham trazendo a gente para esse momento agora de definição.

Mas eu continuo achando que para o Banco Central a manutenção da taxa em 14,75 é o suficiente e ele deve então carregar a tinta na história de que vamos manter isso por um longo período de tempo. Você tem melhor nos índices de inflação, você tem atividade econômica que não dá para dizer que esfriou, mas também não dá para dizer que está esquentando. E o Banco Central, eu acredito muito que o Galípolo há muito tempo quer parar com essas altas na taxa de juros.

Hoje tem uma entrevista da Gleisi, se não me falha a memória, acho que no Valor Econômico, da Gleisi Hoffmann, falando que esperava cortes, mas ela acha que vai ter manutenção, mas que os dois últimos aumentos eram do Roberto Campos Neto, então já estavam contratados e o Gabriel Galípolo não podia fazer nada. A gente sabe que isso não é verdade, mas também não interessa. No fim das contas é só um discurso, mas indica que o governo está esperando a manutenção dessa taxa de juros em 14,75%. E aí coloca o nosso querido Gabriel Galípolo, o presidente do Banco Central, numa situação um pouco mais complicada. Porque é aquela coisa de ter que acertar o ponto certo. Eu imagino que o que ele vai tentar fazer, como eu já falei, é manter a taxa de juros em 14,75% e carregar a tinta no comunicado e depois na ata sobre a manutenção desse patamar da taxa de juros por muito tempo ou pelo tempo que for necessário para convergir a inflação para a meta.

Então, a gente tem dois eventos que são os mais importantes, ao meu ver, no cenário nacional para a semana, que é o PDL, a votação da urgência do PDL, do projeto de decreto legislativo que pode vir a derrubar o IOF e derrubar a alteração no IOF, derrubar o IOF como um todo, e também a decisão do Copom. Nos Estados Unidos, a gente ainda vai ter essa manutenção dos juros lá pelo Fed, e aí a preocupação novamente é sobre a fala do Jeremy Powell, que é o presidente do Federal Reserve, ou pelo menos dando algumas indicativas sobre o que acontece com a taxa básica de juros por lá nas próximas reuniões. Então é mais ou menos isso que a gente vai monitorar por aqui.

Uma coisinha que eu queria lembrar a vocês, se você ainda não viu a nossa newsletter do Esquina Sucupira, não esqueça lá no esquinasucupira.substack.com, está imperdível. Curiosidades e realidades sobre o mercado financeiro. Você sabia que, por exemplo, muita gente no mercado financeiro acompanha o movimento nas pizzarias próximas ao Pentágono para tentar antecipar conflitos globais ou conflitos que envolvam os Estados Unidos ou até que não envolvam os Estados Unidos diretamente, como é o caso de Israel e Irã, mas que você sabe que o pessoal ali vai estar trabalhando? A ideia é que o número de pizzas, o número de pedido de pizzas, de delivery no Pentágono, ali naquelas pizzarias ao redor, aumentam quando o pessoal no Pentágono está trabalhando até mais tarde. E os bares que estão ao redor começam a ter menos movimento, o que significa que o pessoal realmente está fazendo hora extra. É isso que aconteceu alguns dias antes do ataque de Israel ao Irã, e isso tem acontecido aí, o fim de semana também foi de pedido acima do normal, se você quiser dar uma olhadinha lá na nossa newsletter, porque obviamente além do Pentágono Pizza Index, que é esse índice de pizza do Pentágono, eu também falo sobre as ETFs de defesa e aeroespacial ali, que indicam também normalmente, indicam que você vai ter um gasto maior com equipamentos, material bélico, e isso acaba antecipando também alguns conflitos. Beleza? Então não esqueça esquinasucupira.substack.com. Se você não leu, leia, vale a pena, para você entender como funciona o raciocínio do mercado financeiro. Beleza?

Então eu vou ficando por aqui. Bons negócios a todos nessa segunda-feira. A gente se fala amanhã na nossa live no YouTube às 7h30. Não esqueça. Até lá. Força, sucupira.

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