TRANSCRIÇÃO GERADA POR IA
Bom dia, pessoal, sejam todos muito bem-vindos, sejam todas muito bem-vindas. Esse é o nosso Acorda Sucupira de quarta-feira, dia 23 de julho. Eu sou o Rodrigo Oliveira e é uma quarta-feira que promete manter o mercado do mesmo jeito que tem sido.
Tem um pessoal lembrando da expressão do baiano naquele filme Tropa de Elite, no primeiro Tropa de Elite, que ele está esperando, sabe que o Bope vai atrás dele, e está esperando. E o Bope já está atuando dentro da favela, subindo o morro, e ele vira para um companheiro e fala: “Olha, está muito quieto esse morro. Dá um catuco nesse rádio aí, porque está muito quieto esse morro.” Muita gente usando essa expressão aí nas redes sociais para indicar que tem alguma coisa acontecendo — ninguém está vendo, a gente não está vendo ainda, mas tem alguma coisa obviamente acontecendo.
Ontem, a Bolsa chegou a subir durante o dia e depois fechou praticamente estável, em queda de 0,1%, ainda acima dos 134 mil pontos — 134.035 pontos. Mas ficou aquela sensação estranha. Parece que o pessoal está ignorando o risco das tarifas do Trump e está ignorando o risco fiscal, que ontem teve a apresentação do relatório de receitas e despesas bimestral.
O governo liberou 20,6 bilhões de reais em gastos adicionais dos 31 bilhões que estavam bloqueados, contingenciados, porque colocou dentro dessa conta o IOF, aprovado pelo STF, e também colocou recursos que podem vir do leilão do pré-sal — antecipou esses valores para agora. Tem gente criticando, dizendo que podia ter garantido esse recurso para 2026, porque em 2026 a situação está muito mais difícil.
Mais do que isso, você tem alguns problemas que são um pouco mais complicados. Apesar dessa liberação de recursos para gastos, o déficit primário passou de 97 bilhões — que estava na avaliação do segundo bimestre — para 75 bilhões de déficit, o que representa 0,6% do PIB. E a meta é de zerar o déficit.
Mas esse déficit de 75 bilhões, que é apresentado pelo governo nesse relatório, inclui os precatórios, que não são incluídos na conta. Se você tirar os precatórios da conta, você fica com um déficit de apenas 0,2% do PIB. Isso dá 26,3 bilhões de déficit, ou seja, 26 bilhões que você está gastando a mais do que está arrecadando.
Mas pensa comigo: se você já tinha contingenciado isso, por que não manter o contingenciamento e agora sim perseguir o centro da meta fiscal, que é de zerar o déficit? Por que não fazer isso? O governo perdeu mais uma ótima chance de mostrar credibilidade fiscal.
Apesar disso, ninguém se mexeu muito. O DI, por exemplo, a curva DI fechou em todos os vértices — os juros futuros caíram, refletindo um alinhamento com o que está acontecendo nos Estados Unidos, que teve um fechamento de curva também. Isso por conta das falas do Trump contra o Jerome Powell, dizendo que vai tirar ele em no máximo 8 meses (mas o mandato dele dura 10). Para que esse desgaste? Ele defendeu que os juros deviam estar em 1% ao ano, e não entre 4,25% e 4,50%, que é onde estão hoje.
Ou seja, o Trump estressando lá também, mas o nosso DI aqui seguiu os treasuries americanos e caíram em todos os vértices.
Lembrando que semana que vem também tem decisão do Fed nos Estados Unidos e ninguém espera nenhum corte. Mas ficou estranho essa tranquilidade com que o mercado está reagindo a esse cenário de tarifas e risco fiscal aumentado.
Para o ano que vem, a meta é um superávit de 0,25% do PIB, ou 34,5 bilhões de receita acima da despesa. Mas isso fica cada vez mais distante. Saiu uma projeção da Warren Investimentos — do Felipe Salto — dizendo que o déficit estimado na conta deles (e eles são extremamente amigáveis com o governo) está em 108,9 bilhões em 2026.
E mesmo se você subtrair os precatórios — ainda assim vai faltar 60 bilhões de reais para o governo conseguir fechar a conta no ano que vem.
Mas quem se importa, no fim das contas? Essa é a verdadeira discussão. Ninguém se importa. Porque a gente está olhando para as eleições. E depois das eleições você faz o que quiser. Se quiser mudar a meta fiscal, muda. Se quiser descumprir a meta fiscal, descumpre. E vida que segue.
O importante, para o governo e para a oposição, é ser eleito. E depois você resolve do jeito que der. Se for oposição, põe a culpa no governo passado. Se for situação, põe a culpa no Trump. E vida que segue lá na avenida.
O que isso faz, na verdade — e eu nem cheguei a comentar ontem na live — mas se você olhar para as previsões do boletim Focus, o mercado já atrasou em uma reunião o primeiro corte da Selic: seria na primeira reunião de 2026; agora a expectativa é que seja na segunda reunião de 2026. Quer dizer, estamos andando como o Fed nos EUA: sempre atrasando um pouco mais os cortes na taxa de juros. E isso é ruim para todo mundo, por óbvio.
Ontem também teve um pouco de discussão sobre o que fazer com as empresas e setores mais afetados pelas tarifas do Trump. E a ideia é aquilo que todo mundo imagina: vão criar linha de crédito. Inclusive São Paulo, o governador Tarcísio já fez isso. O governo federal está discutindo a criação de uma linha de crédito para ajudar esses setores.
Mas, na prática, se você cria crédito subsidiado ou cria um fundo, você está custeando o superávit comercial americano. É um contrassenso. Mas talvez a gente também não tenha tantas opções.
A expectativa ainda é que o governo consiga baixar a tarifa via negociação. Se você olhar para os acordos que o Trump fez até agora — ontem inclusive ele anunciou o acordo com o Japão e a Indonésia — dá para ter uma ideia:
Reino Unido: ficou com 10% de tarifa sobre veículos, com cotas.
Vietnã: tarifa de 20%, após ameaça de 46%.
Indonésia: 19%, começou com 32%.
Filipinas: aumento de 17% para 19%, ameaça inicial de 20%.
Japão: 15% de tarifa, começou com ameaça de 25%.
Então, espera-se que o Brasil também consiga fechar um acordo parecido com esse.
Fora isso, tem o início da temporada de resultados. A WEG soltou resultado trimestral, a primeira do Ibovespa a divulgar resultado do segundo trimestre deste ano. Expectativa também para Multiplan e Usiminas ainda esta semana — se não me falha a memória.
Além disso, Alphabet e Tesla também divulgam resultado hoje. Acho que falei para vocês ontem que era ontem, mas estava enganado. Será hoje. A primeira das Magnificent Seven a divulgar é a Alphabet, holding do Google.
Então, seguimos nesse ritmo de expectativa até o dia 1º de agosto, para saber como essas coisas vão se desenrolar. E o mercado, naquele momento: “está muito quieto esse morro”. Está muito quieto esse morro.
Bons negócios a todos nesta quarta-feira. A gente se vê amanhã na nossa live, às 7h30 da manhã, no YouTube.
Até lá. Força, Sucupira!
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